Estudava
na 7ª série, bons tempos, sem preocupações, sem maiores angústias fora
uns amores adolescentes, supra-sumo da vida a correr no rio das cousas,
como dizia o poeta. Amigo secreto, e no livro que lançávamos o que
queríamos ganhar para nosso amigo(ou inimigo) oculto se dar ao trabalho
de nos alegrar a tentar uma surpresa e nos decepcionar. Antes havia dado
umas voltas no shopping velho da cidade, São josé dos Campos, 1986 ou
algo assim, e visto uns bons exemplares do Passo do Lui dos Paralamas do
Sucesso lá exibidos. Melhor dica impossível, disse no livro até onde
comprar. Para quem ignora totalmente o que seja este álbum, simplesmente
foi o que catapultou os Paralamas para o Sucesso que até então apenas
era um nome de uma banda, rídiculo, mas apenas um nome. Só para o leitor
destas pobres linhas imaginar, em qual álbum de vinil (sim, vinil,
aquela bolachona preta, os encartes, toda aquela peça rara que tanto
deleite proporcionava a quem o possuía... ah, estou ficando nostálgico)
poderíamos encontrar ótimas músicas como Meu Erro, Óculos, Me liga (esta
que o Lobão acusa o Herbert Vianna de ter plagiado de Me Chama até
hoje), Assaltaram a Gramática - esta com Lulu Santos e sua letra
nonsense, Romance Ideal (esta eu sei de cor, até o solo de guitarra!),
Fui Eu (Sucesso com o grupo sempre livre, aqui numa versão menos
acelerada), Ska, a belíssima Mensagem de Amor, que Leo Jaime transformou
numa versão mais suingada e sofisticada depois, e um sucesso menor, o
Menino e a Menina, esta dizia muito, mas deixa pra lá. Curiosamente, a
que menos me cativava neste álbum soberbo era justamente o Passo do Lui.
Ironias do destino.
Pois
bem, explicações dadas sobre a bolacha, vários colegas passaram a
chegar em mim e perguntar que diabos era o tal Passo do Lui. Eu
pacientemente explicava que era o tal álbum do Paralamas que continha
tais e que tais músicas, blá blá blá, tim tim por tim tim. Legal, a
pessoa achava um barato, não sabia que era isso, e dizia que ia pedir um
também. Mal sabia eu que nuvens negras se avolumavam no meu futuro, mas
as tragédias são feitas de indiferença e arrogância, então, deixe-a
acontecer.
Chegado
o dia do amigo secreto a minha amiga secreta era minha profe de
história, sinto muito mas não lembro mais o nome, que feio, eu sei,
sempre fui péssimo com nomes, me lembro da fisionomia de minha querida
professora, mas seu nomezinho é algo muito difícil na vida de meus
neurônios tão fatigados. Antes, um detalhe: várias pessoas antes de mim
ganharam o tão sonhado Passo do Lui, e era este futuro lindo e musical
que imaginava usufruir dentre instantes. Recebo entre beijos na bochecha
meu vinil, todo pimpão, vou abrindo o presente (rasgando, moleque é
foda) e para meu pesar imenso, NÃO ERA O PASSO DO LUI! Imagino que devo
ter mudado de uma face de quem viu a Ellen Roche pelada na minha frente
para outra que viu a Hebe pelada, foi impossível disfarçar e conter a
decepção! A professora deixou para comprar na última hora, e os meus
colegas FDPs haviam esgotado a cota de Passo do Lui baseados na minha
dica, então o que ela, a profe cheia de Histórias comprou foi o novo dos
Paralamas na época, Selvagem. Este também foi um grande sucesso, e
talz, album recém lançado, mas, por Deus, custava não ter me sacaneado
desta vez ao menos? Fiquei de sorriso amarelo o resto da festa, entre
olhares de inveja para meus amigos que ganharam o disco e olhares de
ódio para a professora malfadada. Coitada, fez o melhor que pôde, eu
teria que passar por esta provação, afinal, somos forjados nestas
peripécias, não é?
A
única coisa que salvou o dia foi um beijo, mas, como eu disse, outra
história, esta, meus amigos, meus inimigos, é de uma derrota, uma ironia
das grandes, uma vergonhinha trágica, ou cômica, sei lá, que a medida
que o tempo parece amarelecer, mas me faz olhar com ternura uma época
que não se matava tanto, não se odiava tanto, mas sim, se divertia um
bocado.
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