sábado, 27 de outubro de 2018

A Maldição da Residência Hill (****1/2)

Essa produção de horror da Netflix é uma ótima adição aos bons produtos para apavorar os corações e mentes dos aficcionados.
Sabido é que as obras de terror são as que mais sofrem com clichês, sustos fáceis, histórias sofríveis e que falham em sua maioria em sua função precípua: causar medo.
Eis que Mike Flannagam mais uma vez nos convida para boas horas de medo e susto, feito de forma muito competente e esmerada, com nível de produção e efeitos muito bons.
As imagens e entidades que permeiam a obra são grandes ideias visuais tanto pela sua aparência quanto por seu comportamento, encapsuladas em conjunto a uma trilha sonora de acordo.
Mansões mal-assombradas são recorrentes nesse tipo de cinema, mas o que engrandece a obra de Flannagam, além de atores excelentes, que dão veracidade e empatia pelos personagens, é a forma que é contada, como num caleidoscópio de idas e vindas no tempo, que a princípio parece quebrar a narrativa, mas o truque se torna grandioso quando em certo momento as linhas temporais dessa trama vão se encaixando e adquirindo forma para nos surpreender com a maestria de sua construção.
Os episódios giram em torno de 50 min a 1h10 e nunca cansam, causando no espectador aquela sede de maratonar que é recompensada por essa belíssima jornada de terror, amizade, coragem e contrição. O final é quase lírico, e não causa espanto essa série estar no top 100 do Rotten Tomatoes de séries de Terror. (****1/2)

PS: curiosamente, um dos protagonistas da história acima tem paralisia do sono (ou não) como eu descrevi aqui e conversa com um especialista no assunto no seriado, mas vejam, o fato ocorreu ANTES de eu assistir o seriado, o que configura mais alguma daquelas coincidências estranhas da vida!

segunda-feira, 22 de outubro de 2018

Relato do além - Paralisia do sono ou espírito opressor?

Lá pelos meus 20 anos dormíamos no meu quarto eu e meu irmão, com 12 na época, aproximadamente.
Avançado da noite, o quarto na penumbra com as parcas luzes da noite filtradas pelas frestas da janela colonial, eu de repente acordo com algo espremendo meu pescoço. Tento falar, só saem gemidos, meu corpo não responde, não consigo me mexer. Meu irmão, aflito, ouve meus balbucios, e começa a me chamar. Eu mexendo somente os olhos, percebo ele levantando, atravessando o quarto até o interruptor, e ligando a luz. Então a pressão se alivia, e eu começo então a conseguir falar e me mexer.

Aqui há uma encruzilhada, mas não de despacho, mas entre ciência e sobrenatural:
- paralisia do sono: a ciência diz que o cérebro desperta do sonho, mas o corpo não, e o sonho ainda deixa vestígios (o enforcamento) no consciente.
- um espírito estaria tentando me enforcar.

Voltando ao relato, confesso que fiquei com os olhos marejados de medo e incredulidade. Fiquei algumas noites assustados com o fato. Não enxerguei nada, nenhuma "entidade".
Hoje prefiro acreditar na explicação da ciência.

PORÉM: há uma semana ocorreu novamente. Dessa vez eu estava sozinho no meu quarto, deitado de lado, a mesma coisa, porém meu chamado não foi ouvido por ninguém, meu filho estava no quarto do lado, porém de fone, sem chance de que ele pudesse ouvir algo.
Fiquei menos assustado, já cravei o carimbo "paralisia do sono" de qualidade!

PORÉM: no dia seguinte, dormindo de novo, meu filho me acorda:
- Pai, você foi beber água?
- Claro que não Junior, estava dormindo, pow!
- Tem certeza?
- Óbvio! Pra isso me acorda, pra perguntar se bebi água????
- Não, porquê ouvi aquele glub do filtro, e quando cheguei lá a água havia derramado no copo e vazado toda na pia.
- WHAT?!
Desci com ele, e a água tinha molhado a pia, o copo cheio. Porém como o filtro tem duas torneirinhas, daquela de pressão que a gente empurra o copo pra água sair. Mas ele tem de ser bem forçado pra poder a água cair. O copo somente encostado não teria força pra poder fazer isso. E a torneira estava pingando, mesmo eu tendo mexido nela pra que de repente ficasse no "lugar".
Eu e meu filho de olhos esbugalhados, voltamos pro quarto pra tentar dormir. Foi difícil.

Dia seguinte, coloquei outro galão já preparando pra tampar a tal torneirinha de algum jeito.
Surpresa: ela não estava pingando uma gota sequer!

Aguardei os próximos dias após para observar se algo de extraordinário voltava a ocorrer.
Nada, porém.
A verdade é: o que pensar disso?????

Demolidor - 3ª temporada (****)

Matt Murdock retorna das cinzas baseado na história de Defensores. Usando como inspiração a mítica HQ do Frank Miller "A Queda de Matt Murdock", o advogado cedo desconfia de que o Rei do Crime, preso, está armando pra poder ficar fora da cadeia.
Usando uma delação premiadíssima, ele consegue seu intento mas suas intenções, claro, não são de bom samaritano. Aqui ele usa o seu clássico terno branco dos quadrinhos. Também de lá vem um dos seus mais incensados, principalmente da fase Miller, nêmesis: o Mercenário, aquele vilão que tem o poder de transformar qualquer objeto em uma arma mortal. Estou no episódio 7 e até o momento ele não está com seu uniforme clássico azul com os alvos (Bullseye, nome original do personagem).
Como já virou uma grife da série, há uma luta sensacional feita em somente um take, aqui numa situação na prisão. Impressionante como cada vez eles conseguem melhorar essas cenas, que enseja uma grande dose de coordenação para fazer funcionar. Sensacional.
Padrão também são as lutas, cada vez mais viscerais, brutais, violentas. A trama tem mais ramificações, mas nem todas são de primeira grandeza, porém o conjunto é de alto nível. Sim, o ritmo começa bem lento, é preciso moderada paciência para poder passar por essa zona inicial pantanosa.
Contudo quando as coisas decolam, é a melhor temporada do Homem Sem Medo. Os vilões são ótimos, e o nível de produção esmerado. A melhor série da Marvel é essa. Que bom, palmas pra netflix. (****)

domingo, 21 de outubro de 2018

Podia ser meu pai, podia ser meu irmão

Lembro dessa música sobre ditadura que o Renato abominava (lembra soldados e "a gente não queria lutar", muitos odiavam, e infelizmente essa onda extremista fez os "rockeiros" passarem pano para proto fascista ditador. O mundo dá voltas, mas as vezes é pra trás e estamos voltando pra 1964 na cabeça de algumas pessoas. Como diz o Renato: "cortaram meus braços / cortaram minhas mãos / cortaram minhas pernas / num dia de verão / podia ser meu pai / podia ser meu irmão / não se esqueça / temos sorte / e agora é aqui." Agora é aqui meus amigos. Agora é aqui.
1965 (Duas Tribos)
Legião Urbana
Vou passar
Quero ver
Volta aqui
Vem você
Como foi?
Nem sentiu
Se era falso
Ou fevereiro
Temos paz
Temos tempo
Chegou a hora
E agora é aqui
Cortaram meus braços
Cortaram minhas mãos
Cortaram minhas pernas
Num dia de verão
Num dia de verão
Num dia de verão
Podia ser meu pai
Podia ser meu irmão
Não se esqueça
Temos sorte
E agora é aqui
Quando querem transformar
Dignidade em doença?
Quando querem transformar
Inteligência em traição?
Quando querem transformar
Estupidez em recompensa?
Quando querem transformar
Esperança em maldição?
É o bem contra o mal
E você de que lado está?
Estou do lado do bem
E você de que lado está?
Estou do lado do bem
Com a luz e com os anjos
Mataram um menino
Tinha arma de verdade
Tinha arma nenhuma
Tinha arma de brinquedo
Eu tenho autorama
Eu tenho Hanna-Barbera
Eu tenho pera, uva e maçã
Eu tenho Guanabara
E modelos revell
O Brasil é o país do futuro
O Brasil é o país do futuro
O Brasil é o país do futuro
O Brasil é o país
Em toda e qualquer situação
Eu quero tudo pra cima
Pra cima, pra cima

Músicas pra sempre: A primeira vista - Daniela Mercury

Estava a discutir com uma amiga sobre uma música que mostrei a ela, e recebi a resposta que era velha. Lembrei da frase sobre a beleza ser uma alegria perene. Sou muito saudosista em se tratando de música. Preguiça de garimpar o novo. My mistake.
Adoro visitar velhas canções e não tanto velhos amigos. Ambos podem melhorar ou piorar com o tempo. Only time will tell.
Mas voltando a canção do título, ela foi composta na fase áurea de Chico Cesar, e foi lindamente arranjada para a hypada na época Daniela Mercury.
A aura de mistério da canção, com seus fonemas musicados, além de alguns instrumentos incomuns na música pop, já não bastasse ainda tem uma letra linda que reproduzo abaixo que ela inteira não merece reparo. Estava separando as estrofes pra ficar bonitinho mas o programa de blog tá tão cagado que preferi fazer exame de próstata com o doutro ET. Mas sério, só por esses versos já vale o Nobel: "quando o olho brilhou, entendi / quando criei asas, voei" "Quando me chamou, eu vim / quando dei por mim, tava aqui / quando lhe achei, me perdi / quando vi você, me apaixonei". O cara estava estupidamente apaixonado e inspirado, o que é o gerador de belas músicas mais comum na história das belas músicas em qualquer tempo e lugar. Vai o link da versão da Daniela, mas a dele é mais seca e crua, só violão e voz, mas prefiro a da Mercury pelo arranjo lindão mesmo.


https://www.youtube.com/watch?v=Yl99dYPO-hY

A Primeira Vista

Chico César



Quando não tinha nada, eu quis
Quando tudo era ausência, esperei
Quando tive frio, tremi
Quando tive coragem, liguei

Quando chegou carta, abri
Quando ouvi Prince, dancei
Quando o olho brilhou, entendi
Quando criei asas, voei

Quando me chamou, eu vim
Quando dei por mim, tava aqui
Quando lhe achei, me perdi
Quando vi você, me apaixonei

Amarazáia zoê, záia, záia
A hin hingá do hanhan
Ohhh!
Amarazáia zoê, záia, záia
A hin hingá do hanhan
 
Quando não tinha nada, eu quis
Quando tudo era ausência, esperei
Quando tive frio, tremi
Quando tive coragem, liguei

Quando chegou carta, abri
Quando ouvi Salif Keita, dancei
Quando o olho brilhou, entendi
Quando criei asas, voei

Quando me chamou, eu vim
Quando dei por mim, tava aqui
Quando lhe achei, me perdi
Quando vi você, me apaixonei

Amarazáia zoê, záia, záia
A hin hingá do hanhan
Ohhhhh!
Amarazáia zoê, záia, záia
A hin hingá do hanhan

Quando me chamou, eu vim
Quando dei por mim, tava aqui
Quando lhe achei, me perdi
Quando vi você, me apaixonei

Amarazáia zoê, záia, záia
A hin hingá do hanhan
Ohhhhh!
Amarazáia zoê, záia, záia
A hin hingá do hanhan
Ohhhhh!
Amarazáia zoê, záia, záia

sábado, 20 de outubro de 2018

Better Call Saul - 4ª Temporada (****1/2)

E assim vamos chegando perto dos finalmentes da transformação de Jimmy McGill em Saul Goodman. Em como um persistente trambiqueiro realiza sua luta inglória para se tornar um advogado, sob a sombra do irmão genioso e genial.
Claro que não poderiam faltar personagens vitais de Breaking Bad convivendo desde a gênese do advogado trambiqueiro e que não jogava com as regras. Destarte é recompensador ao fã daquela série reencontrar o cerebral Gus Fring e seu futuro fiel escudeiro de escaramuças Mike Ehrmantraut com sua fleuma aparente apenas na superfície. Ou então os temidos irmãos Salamanca, assassinos gêmeos de aluguel. Claro, Hector Salamanca que um dia foi um implacável traficante, e que na série vemos ir parar na cadeira de rodas após uma apoplexia causada pelo sobrinho, e nessa temporada começa a fazer as caretas e maneirismos que tanto nos divertia e dava medo na sua série de origem.
Saul tenta reaver a licença para advogar enquanto arruma um emprego de vendedor de celulares, espertamente vendendo privacidade já que esses equipamentos ainda estavam no embrião e só serviam mesmo para fazer chamadas.
Uma coisa que impressiona é o alto nível de produção, o que rende uma obra rica, bem cuidada, bem pensada, de belíssimas paisagens na aridez americana, que como vemos está amiúde 100% nas almas, parafraseando Drummond.
Quandro engrenei na série, praticamente vi numa tacada só, e mais uma vez os produtores lograram enorme êxito em reviver esses personagens tão queridos e únicos nesse universo de crime e aqui, vez ou outra, humor. Aguardamos o que está por vir com expectativa. (****1/2)

domingo, 14 de outubro de 2018

O Apóstolo - Netflix (***1/2)

Um ex-padre vai a uma ilha resgatar a irmã desaparecida. Porém tem de ir incógnito pois na tal ilha há um culto com rituais sinistros que irão sendo descobertos pelo protagonista a medida que ele vai avançando nas investigações. O clima é hostil e sombrio, o personagem principal pouco empático, talvez proposital pelo seu vicio em láudano, e há cenas por vezes bem violentas. Há toda uma identidade visual e mitologia próprias, além de personagens que adoramos odiar. Um filme acima da média no gênero suspense/horror. Porém certamente não é um filme fácil. Mais um acerto do Netflix. (***1/2)