terça-feira, 9 de dezembro de 2014

Turn Blue - Black Keys - Uma nova sonoridade

Descobri estes caras recentemente, uns meses aí para por na conta. A sonoridade mais suja e pesada, puxando no rock de garagem, blues, Hendrix e outros dos primeiros trabalhos deve ter atraído um público diferenciado para esta galera estadunidense, e alguns hits ficaram no imaginário deles com propagandas, filmes e séries utilizando Set you free, I'll be your Man, 10 AM Automatic como trilha sonora. Então ocorre a união com o produtor Danger Mouse e a burilada no som que aparou algumas arestas e trouxe a banda para os holofotes com álbuns com uma pegada mais pop mas ainda assim com boas guitarras e bateria comandando o show. Os três desta fase mais pop são os álbuns Attack and Release, Brothers e El Camino.
Falando deles, são uma coleção admirável de rocks alguns mais ousados, outros bem pop e com letras surpreendentes, como Strange Times, Tighten Up, Dead and Gone, Same old thing, Howlin for you, Lonely Boy, Sister, Mind Eraser, Unknown Brother e outras que dependendo do gosto com certeza o ouvinte acaba se identificando mais. Só estas citadas já dariam uma bela coletânea de Hits para salvar qualquer festa rocker, vão por mim.
Eis que dando uma virada no som e no clima, os caras lançam em abril de 2014, atrasadamente de novo descobri, Turn Blue.
Para os fãs fanáticos por blues e garage rock certamente é um cruzado no queixo, pois aqui o que mais tem relevo no som são os teclados climáticos, bateria e contrabaixo um tanto quanto dançantes, com as guitarras mais rítmicas, sem riffs que eram uma marca registrada do som da banda.
Em Fever já se nota que o trabalho fala um bocado da separação, algo ainda vivo na vida do vocalista e compositor Auerbach, e que os climas serão tão ou mais importantes até do que a letra, inspirada, que fala "...você me balançou como nunca eu fui antes / agora me mostre como viver de novo". Pode ter certeza que o fraseado de teclado vai ficar assombrando sua mente! Não é por acaso que foi o single de lançamento do álbum.
Contudo o álbum embora tenha ótimas músicas, não é destinado ao sucesso e as arenas, mas como disse a banda em entrevistas, é um apropriado produto para ser ouvido nos fones de ouvido, pelo cuidado da musicalidade e produção.
The Weight of Love tem um estilo viajante, quase etéreo, um tanto fantasmagórico até na imagética sonora, digamos assim, embora fale de um amor e o peso dele. Um solo melodioso para matar saudades de algo que será um tanto raro neste trabalho, ao contrário dos falsetes de Dan em algumas canções, uma nova faceta nos vocais dos caras, que surge em peso em In time "Vc tem uma mente preocupada/ e eu um coração preocupado / vc não sabe o que fazer / e nem eu por onde começar...).
Year in Review é outra ótima canção, com o coro e um tom meio Echo, talvez pelos climas e um quê de culto, na belíssima letra pergunta: "Pq vc sempre amará aquelas que irão te machucar? / então desabam quando elas se vão / oh não, é tão doloroso quando se vão, e difícil deixá-las ir / e vê-las debandando enquanto voce pergunta: "por que estamos sempre na direção errada? / vergonha, mas vc está fazendo isso de novo."
Bullet in The Brain começa lentinha mas perto do meio tem uma mudança de ritmo que acorda o ouvinte para a canção, além de um contrabaixo muito bem sacado. Como o arrependimento e o remorso estão no sangue do álbum, o vocalista lamenta e diz que "prefere uma bala no cérebro a permanecer o mesmo".
Is Up to You Now  lembra beatles, guitarras finalmente de volta, e mais mudanças no andamento da canção, o que a torna a música estranha e pouco palatável, porém era isso que queria a banda com isso não?
Não poderia deixar de destacar as ótimas 10 Lovers, com seu contrabaixo soando como um trovão, além dos falsetes que casam com a dor de cotovelo explicitada na letra, e o refrão com crescendo de instrumentos muito bem construído, e no rockão mais ao estilo Black Keys na aparentemente mais ensolarada faixa do álbum, ritmicamente falando, Get Gotta Away, embora a letra ainda seja amarga. Prestem também atenção em Year in Review, Waiting in Words e na falsa balada In Our Prime. Um grande disco que alguns torcerão o nariz se forem tradicionalistas ao passado da banda, mas que vale a pena experimentar a nova sonoridade, e porque não, aos novos rumos da banda. (****)