terça-feira, 27 de dezembro de 2016

George Michael e o pop perfeito embalando tudo.

Lá pelos idos de 1984 ou muito perto disso havia várias canções pop românticas que fariam qualquer monge budista chorar como diria Morrissey em Heaven knows I am miserable now.
Eu tinha 13 anos, e claro, já tinha meus sonhos românticos e pouca ação romântica, se é que vocês me entendem. Morava num condomínio no bairro Santana, e para um dos lados do apartamento o que eu via era o mundo industrial, a cidade imperiosa e luminosa, as luzes que me fascinam na cidade, mas também as instalações da petrobrás e sua chaminé que cuspia fogo initerruptamente queimando sabe lá Deus que gás maligno para o céu nem tão límpido. No entanto o outro lado era o lado brilhante da lua, morros baixos que se seguiam numa planície sem fim, e um horizonte ensolarado ou estrelado, dependendo da hora do dia, e muito pensar, muito meditar, e com as belas canções que estavam a disposição, ficava fácil devanear.
Era a época da balada metal mais perfeita que já houve, Still Loving You dos Scorpions, com suas guitarras e dedilhados marcantes, sua letra derramada, e o vocal de Klaus Meine. além de um solo de cartilha de melodia impecável.
Ou então a balada de Diana Ross chamada Miss you, feita, depois que eu soube, em homenagem a Marvin Gaye, assassinado na época pelo pai.
Mas eu vou falar de George Michael, e como esquecer aquela balada pop inigualável começando com teclados suntuosos, violão meio espanholizado num solinho, e a voz privilegiada do cara falando de suspiros descuidados, e após isso, entrando a bateria, baixo, teclados e então AQUELE solo de sax alto inconfundível e sexy. Wow! Classuda até os ossos, pertencente a época que o cara fazia parte do Wham! que era ok, mas não tanto quanto essa canção que era superior, e depois as músicas que ele produziu em sua carreira solo. Não tem quem não reconheça que esta canção é muito foda. Não há quem não evoque bons momentos, ou maus, dependendo da sorte amorosa de cada um. E ouvir uma bela canção nos faz voltar no tempo, na sensação de estar mergulhado realmente na época, é um fato estético!
Dessa época feliz, muitas canções e artistas eram desprezados por mim pela minha rebeldia e falta de mente aberta para a música com M maiúscula, e com S também pois que é plural e há boa música em vários estilos. A minha vida era já germinada pelo Rock Br que já ia pondo as manguinhas de fora e fizeram minha cabeça adolescente, e sou grato por isso, foi um momento, deve ser vivido.
Não curtia nem curto muitas canções do GM, mas algumas realmente me são caras e notadamente as mais românticas e ou com um tratamento mais doce, digamos assim, como Heal The Pain, ou a belíssima interpretação da triste One more try. Esta última mesmo eu não sabendo sobre a letra na época de seu lançamento já tinha um clima soturno, pesado, e sua beleza talvez resida nesse casamento de música e letra se complementando em significado e significância.
Freedom, I want your sex, dentre outras, foram sucessos nas pistas mas não me tocavam nem tocam hoje, mas o fizeram em milhões, e reconheço sua relevância inclusive para a questão estética visual da música pop dos anos 80/90.
Uma vida cheia de polêmicas, figura atormentada pela bissexualidade, drogas e posições políticas e pessoais, ele morreu tranquilo, dormindo, oposto total do que foi sua vida.
E por que diabos eu tive de falar de reminiscências juvenis minhas quando o objetivo era falar de George Michael? Porque a música fala alto na minha vida, e dela emanam histórias, momentos e situações inexpugnáveis. E fico grato a ele por suas canções que formam e embalam o mosaico de minhas lembranças. Este é o poder aglutinador da música.
RIP George Michael.

domingo, 18 de dezembro de 2016

Rogue One

O novo filme baseado na saga interplanetária Star Wars conta a história dos soldados que conseguiram obter os planos para destruir a estrela da morte em episódio IV - Uma nova esperança. Não iremos ver muitos personagens clássicos, uns 4 no máximo. Porém tem Darth Vader. Pena que seja tão pouco, afinal um personagem tão icônico para a história do cinema merecia mais. Mas opções, opções. Claro que há easter eggs para os aficcionados como o alienígena que arrumou treta com Luke na cantina e que Obi Wan Kenobi educou, além de citações de outros filmes, personagens inclusive de clone wars o desenho. O famoso fan service tão falado e aqui feito de forma bem mais elaborado, menos auto-indulgente. Desde já digo que o melhor personagem é um robô, só que dessa vez não é um engraçadinho e adorável como BB8. Dessa vez se trata de um robô de combate imperial que foi reprogramado pelos rebeldes para auxiliar nas missões. Uma inteligência artificial irônica, sardônica no seu humor, eu diria, e é dela as melhores ironias e piadas desse filme. Um personagem fascinante que no meu modo de ver eclipsou os outros (bons) personagens da trama. A estrutura é de um filme de guerra, e são nesses momentos, de batalha mesmo, que o filme sobressai de forma brilhante, com efeitos esplêndidos, com os classicos AT AT e AT STs devastando tudo quanto podem, em meio a tiroteios de blasters e lançadores, Xwings, e toda parafernália que Lucas imaginou. Há personagens como um cego com poderes quase de demolidor, conseguindo lutar com sentidos de super-herói, e que acredita na força e usa um mantra para absorvê-la. E há um extremista que veio dos desenhos, Saw Guerrera, numa atuação decente de Forest Whitaker com voz cansada e rouca como o personagem emana. A mocinha é filha de um engenheiro criador da estrela da morte, e que deixa um ponto fraco para que a aliança possa lançar mão, uma explicação de como uma arma tão mortífera pôde ser tão facilmente subjugada. Este filme DEVE ser assistido num cinema, tanto pelas imagens belíssimas quanto o som estonteante e explosivo. Mesmo a exibição em 3D e dublada não conseguiu estragar a bela experiência. Pena não poder ouvir a majestosa voz de James Earl Jones que retorna para dar sopro as palavras de Darth Vader. Uma fato é que o Grão Moff Tarkin de Peter Cushing está vivo! Ao menos digitalmente, aliás, embora alguns tenham achado artificial, vi de forma interessante esta participação, inclusive tenho um livro da saga, Tarkin, para ler, agora me lembrei.
Este é um filme de guerra, um filme de heroísmo, luta, força, sacrifício, como deve ser um filme dessa natureza. Não é tão bom quanto os clássicos, mas foi tão bom quanto o melhor dos episódios 1-3 e quase tão bom quanto episódio 7. Mesmo que nunca tenha ouvido falar de Star Wars, vale a pena o investimento nesse muito bom spin off da mítica criação de George Lucas. Não contive o arrepio em alguns momentos, e quem é fã certamente vivenciará o mesmo. May the force be with you. (****)

A caça - Netflix (Drama)

Um professor de jardim da infância é acusado injustamente de ter molestado uma das crianças. Logo várias crianças, levadas por "pseudo-psicologia", estarão com sintomas de  possivelmente molestadas. E com isso a vida do tal professor vira um inferno ladeira abaixo. Um filme europeu, ritmo lento, porém sério e relevante para esse mundo de internet que destrói reputações tão fácil com cria. Um crime contra a criança é algo bárbaro que deixa os adultos em parafuso. Porém crianças mentem. No filme é exatamente isso que ocorre, após a menininha ter visto material adulto por intermédio de seu irmão mais velho, e cria o resto de sua cabeça. A partir daí o caminho não tem volta, com todas as consequências que vem a rodo inclusive o julgamento sem juiz. Não é um filme fácil, não tem final feliz. Mas é um importante alerta. Faz pensar neste mundo intolerante e fascista que afundamos. (****)

domingo, 4 de dezembro de 2016

Homenagem silenciosa ao falecido hoje poeta Ferreira Gullar.

"Dois e Dois são Quatro" (Ferreira Gullar)
Como dois e dois são quatro
Sei que a vida vale a pena
Embora o pão seja caro
E a liberdade pequena
Como teus olhos são claros
E a tua pele, morena
como é azul o oceano
E a lagoa, serena

Como um tempo de alegria
Por trás do terror me acena
E a noite carrega o dia
No seu colo de açucena

- sei que dois e dois são quatro
sei que a vida vale a pena
mesmo que o pão seja caro
e a liberdade pequena.


Mau Despertar

Saio do sono como
de uma batalha
travada em
lugar algum

Não sei na madrugada
se estou ferido
se o corpo
tenho
riscado
de hematomas

Zonzo lavo
na pia
os olhos donde
ainda escorre
uns restos de treva.


Falar

A poesia é, de fato, o fruto
de um silêncio que sou eu, sois vós,
por isso tenho que baixar a voz
porque, se falo alto, não me escuto.

A poesia é, na verdade, uma
fala ao revés da fala,
como um silêncio que o poeta exuma
do pó, a voz que jaz embaixo
do falar e no falar se cala.

Por isso o poeta tem que falar baixo
baixo quase sem fala em suma
mesmo que não se ouça coisa alguma.


 
Em face da imprevisibilidade da vida, inventamos Deus, que nos protege da bala perdida.

O QUE SE FOI

O que se foi se foi.
Se algo ainda perdura
é só a amarga marca
na paisagem escura.

Se o que foi regressa,
traz um erro fatal:
falta-lhe simplesmente
ser real.

Portanto, o que se foi,
se volta, é feito morte.

Então por que me faz
o coração bater tão forte?