quinta-feira, 28 de abril de 2016

Fazia tanto tempo que não esfriava assim que nem me lembrava como era...

Fazia tanto tempo que não esfriava assim que nem me lembrava como era. Frio de cortar o rosto, faca amolada de gelo, de petrificar as feições e encolher as expressões corporais.
Tarde de anoitecer repentino, sombras que se acercam sem medo, se alimentando do nosso medo.
O frio que torna qualquer aconchego melhor que estar ao léu, a descoberto, sofrendo entre lufadas glaciais a castigar como se fosse um gracejar do céu.
O ser humano, e a alegria dele quando inventou o fogo para enfrentar o frio. Essa alegria que peço.
Enfrentar o frio sem armas é, como nos mostram as mortes em grandes capitais de moradores de rua em todo inverno, uma luta vã. 
Dizem que as mulheres adoram o inverno por ser a época de se vestir mais elegantemente. Ou será que é quando podem se mostrar menos e sugerir mais, fugindo da obviedade da auto-exposição?
O frio não diz nada as crianças, que brincam imunes a ele, que as olha aborrecido. Só nos, adultos, que sofremos com ele, nos limitamos. As crianças são seres de qualquer tempo, além do tempo.
Falando novamente de roupas, engraçado que no inverno as árvores se despem, e as mulheres se vestem.
Agora é moda, a natureza, que tanto debulhamos, agora cobra seu preço, e vem com H1N1, e cria a paranóia do álcool-gel, de manter a mão nos bolsos disfarçadamente de frio, e na real para não cumprimentar e ser devorado pelos germes do outro, esse inimigo em potencial.
Sobre o inverno:
Quando criança: - hein, inverno? que é isso? Deixa eu ir lá fora jogar bola.
Quando jovem: - vai ter mulher, vou por um casaco e vou!
Quando adulto:- Frio da porra, vou ficar debaixo de coberta.
Quando idoso:-  ai minhas junta!
Não sei porque estou falando de inverno, ele nem chegou. Mas que já manda aviso dizendo que vem de mala e cuia, ah sim....