sábado, 9 de dezembro de 2017

Meu amigo Pedro e o barulho

Lembro dos tempos heróicos dos primeiros barulhos, com a bateria do Titi que vinha no fusca dele desmontada e encaixada como um quebra cabeça, sendo que ele tirava o banco do carona pra conseguir seu intento. E então era trazer e subir escadas, montar, e uma única e solitária caixa amplificada para soar o baixo e guitarra. Claro que não era bom mas era o suficiente pra levarmos um som nos primeiros ensaios da Los Pajé, nome mítico pois a gente chamava chuva quando tocava. Ou era o tempo que se aborrecia com nossos "defeitos sonoros". Aos poucos conseguimos caixas extras, microfones, a bateria passou a ficar aqui na parte de baixo da casa pra facilitar.
O baterista tinha carteira de música, era do fã clube oficial do Raul Seixas e ia a loucura quando eu levava na guita Meu amigo Pedro e Aluga-se, a versão original com uma guitarra fuderosa do tal de Soluça, milhares de milhas melhor que seu arremedo que os Titãs tiveram o crime de cometer.
O repertório era puro rock br dos 80, excetuando esses Rauls ditos acima, com Legião, Ira!, paralamas, engenheiros, finis africae, plebe rude, dentre outros, mas misturado aparecia até Zeca Baleiro com Lenha, uma balada com violão baixo e guitarra que encaixa bem com nossa formação.
O terraço ainda não havia sido fechado, então era ao menos arejado e o barulho devia incomodar sem nada que o retivesse, embora havia a galera que curtia também.
Era costume tocar por 3 horas no mínimo, quase que sem parar, apenas um lanche e toma-lhe mais rock, a guitarra Golden modelo Gibson preta minha certamente minerando uma hérnia de disco em mim, embora eu nunca tenha tido uma. O baixo eagle, até hoje em nossa mão, também pesadíssimo, não no som mas devido a ótima madeira empregada no bichinho. De tanto tocar o baterista saia até meio assado de tanto ficar sentando batendo pernas e braços.
Certa feita fizemos uma apresentação no aniversário da minha irmã, com direito a ensaiar e tudo, ficou redondinho, pena não termos celular na época pra registrar, era camcorder mesmo, mas sinceramente não deve ter sido usada. Até havia um registro da gente fazendo um som, mas se perdeu como muitos outros registros daquela época, onde as fitas emboloravam se não usadas. Algo tão distante pra molecada de hoje que se assemelharia a histórias das pirâmides ou algo que valha.
Tivemos até nosso momento transgressor, quando resolvemos que iríamos tocar no dia de finados. Muitos do mundo dos vivos e dos mortos também devem ter odiado a gente. Que sacrilégio, não respeitar o dia dos mortos. Éramos assim, a rebeldia ainda grassava nas nossas almas rockeiras. Aliás até hoje, o rock não morre em nós, pode até adormecer, mas basta uma fagulha para o paiol virar explosão.
Se bem que quando nosso baterista virou pai e parou de fazer barulho, eu tenha dito, como a música:
"Hoje eu te chamo de careta, e vc me chama vagabundo".
Fez sentido na época, e muito mais hoje.
Mas o importante é que hoje ainda o nosso "barulho" continua, alguns personagens se mantiveram, meu irmão e eu, e outro se agregou, o Júlio Batera.
No fim é aquilo, já dizia o vetusto Neil Young: Rock and Roll never dies.
Só a gente, um dia.

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