sexta-feira, 15 de maio de 2015

Voltando a ler e uma pequena história da literatura policial.

Sempre fui muito leitor. Costumava ler até 30 livros por ano em uma saudável competição com um colega de trabalho, vulgo Titi. A lista era eclética como cantora de MPB, e assim como elas, a qualidade poderia variar de literatura propriamente dita e best sellers policiais.
Agatha Christie e Georges Simenon notadamente na parte policial. A primeira, a título de esclarecimento, era mais voltada para a literatura dita mundana, pouco elaborada, porém ricamente psicológica. Seus dois ícones foram Miss Marple, uma velhinha de uma cidade do interior com um aguçado senso dedutivo. Já o ajanotado e cultivador das células cinzentas Poirot era seu personagem mais querido dos leitores. Belga, com seu bigode encerado, cabeça de ovo, chapéu côco, foi capaz de resolver os mais intrincandos crimes, como em o Assassinato no Orient Express, e em Cai o pano, sua última aparição.
Georges Simenon é por muitos considerarado o mais literário dos escritores policiais. Conseguiu elaborar novelas do comissário Maigret em certa feita em uma semana, um caso de proficuidade incomparável na história da literatura policial e fora dela. Viciado em charutos e mulheres, disse em certa feita que dormiu com milhares. Exagero a parte, o seu famoso personagem era um humanista, que gostava de entrar na atmosfera do ambiente do crime. Os personagens eram psicologicamente detalhados de forma incrível, e seu inspetor, como subvertendo a idéia do detetive genial, por vezes se confessava perdido, sem saber o que fazer, tateando no escuro.
Ambos os autores tiveram seus personagens personificados em seriados de várias épocas e variada qualidade. Além destes outros autores ajudaram a criar as regras e difundir a literatura policial.
O pai da literatura policial assim como suas regras foi o escritor e poeta Edgar Allan Poe. Atormentado, genial, alcoólatra, o americano definiu o que seria a novela dedutiva, assim como o interlocutor de inteligência comum que sempre ficava maravilhado com as peripécias do detetetive. Auguste Dupin foi o detetive de Poe, sua primeira história foi sobre uma correspondencia secreta. Sua aventura mais famosa é Os Crimes da Rua Morgue. Porém o mais importante feito foi o Caso de Maria Roget: um crime ocorreu na época e Poe, baseado em reportagens abundantes sobre o crime, simplesmente alterou o nome da vítima e reconstitiu o mesmo e dessa forma chegou a uma conclusão sobre o caso, que viria se tornar o que efetivamente foi apurado pela polícia posteriormente. Poe também fez ensaios, o seu famoso poema "O Corvo" é um clássico da poesia romântica mundial, e contos de terror e suspense, como o apavorante Um Caso de Mesmerismo e o Coração Denunciador.
Morreu tendo delirium tremens numa rua erma. Uns dizem até que foi envenenado.
Contudo quem ajudou a difundir a literatura policial foi Sir Arthur Conan Doyle e o seu notório Sherlock Holmes e seus assistente Dr Watson. Cientificista, detalhista, de memória fabulosa e versado em baritsu, violino e box, viciado em heroína nos momentos de tédio quando não havia crimes, o detetive era um ancestral da inteligẽncia quase computacional. Suas histórias ficaram tão famosas que Doyle em certa feita resolveu matar o herói, no que foi quase que apedrejado pelos leitores. Resultado: ressuscitou o personagem. E também usando os métodos de seu detetive fictício, ajudou a polícia a resolver crimes. Muita gente acredita que Sherlock Holmes existiu. A criatura engoliu o criador. No fim da vida Doyle se envolveu com ocultismo porém a sombra de seu personagem mais famoso sempre o perseguiu.
Outro personagem até pouco conhecido no Brasil é padre Brown de Chesterton. Tendo sido ex-confessor num presídio, aprendeu muitas coisas da vida bandida, digamos assim, e com sua sabedoria simples, e senso de observação quase mágica, ele desvendava crimes que por vezes beiravam causas sobrenaturais, quando na verdade não passavam de simples e pura maldade humana. Seus contos tinham uma qualidade muito literária, com muitos trocadilhos bem elaborados, que foram detalhados bem na edição da ediouro, que explicou mas não quis criar uma versão que certamente seria intraduzível. Recentemente teve uma série de tv da BBC com resultados variados nos episódios, e muitas mudanças no roteiro que por vezes desfiguravam os contos que lhes deram origem.
Convém citar também Arsene Lupin de Maurice Leblanc, o ladrão de casaca, os livros de Edgar Wallace e seu detetive Sooper, Nero Wolfe de Rex Stout, o detetive glutão criador de orquídeas e seu ajudante Archie Goodwin. Aqui não fiz menção a detetives da fase Noir por serem de natureza diversa das histórias clássicas dedutivas.



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