sexta-feira, 16 de março de 2012

A década que o Brasil inventou seu Rock

Hoje em dia uma coisa é fato: obter música perdeu muito do tesão. O tesão da descoberta, da luta, da diversão de se compartilhar um disco, coisas que não existem, no sentido bíblico da coisa.
Lembro em SJC que ralávamos para obter nossos vinis, e o máximo de pirataria que nos permitiam era fazer cópias cassete dos álbuns dos amigos, e ouví-las com religiosa reverência.
O senso crítico não era dos melhores? Mas, ora, a forma como nos atingia, o momento estético, digamos, era muito mais forte do que a experiência para ouvir nos deu depois. Amar se aprende amando e ouvir bem se aprende só ouvindo, porcaria e sublimidades. O grande barato é este, saber que uma música pode não ser tão boa quanto imaginávamos, mas nos tornamos melhores por perceber isso, e mesmo assim ainda adoramos ouví-la.
Uma curtição de moleques rockers era uma loja onde havia milhares de discos onde podíamos zapear por suas capas, encartes, e bolar uma coletânea na hora na fitinha e depois nos fartar ouvindo no máximo volume ou então estourando os ouvidos nos fones. Quem sabe de música entende que o som amplo de um vinil com sua agulha destroçando os sulcos é o verdadeiro sinônimo de ser feliz! O suspense e o estalido do silêncio de um vinil há muito desejado é como a poesia muda de um céu estrelado na roça. O silêncio que precede o esporro da distorção sonora e seu ribombar pelas paredes do quarto, da sala, a música invadindo uma vida, brother.
Troquei um show do Ultraje a Rigor por um disco do ultraje.
Vi um show da legião na época de lançamento do álbum Dois.
Vi quase todas as bandas importantes ou que importavam do BROCK 80.
Maior arrependimento: nunca ter visto um show do Ira!
Quer dizer, para muitos isso não diz muito.
But it means a lot to me, man!

(De: A década que o Brasil inventou seu Rock, de bilyjunior)

Nenhum comentário:

Postar um comentário