Num futuro distópico mulheres são amealhadas, após uma crise mundial de esterilidade, para serem Aias, destinadas a serem reprodutoras numa sociedade misógina e padronizada. Os comandantes são os chefes da casa que nos dias férteis irão copular como simplesmente mero fator biológico enquanto as esposas deixam a aia repousar em seu colo, segurando a mão delas e participando e "torcendo" pra que o ato obtenha êxito.
Quem foge a essa regra onde cada um representa seu papel é mandado a campos de correção e nos casos extremos (lesbianismo, estupro) são castrados ou até executados (enforcados ou apedrejados).
As mulheres não podem se informar, trabalhar, ter propriedades, são meros joguetes dentre homens que por vezes também são pessoas a representar papeis e funções enquanto ostensivamente há homens armados em quase todo o lugar. Não há lugar pra conversas vãs, gracejos, passeios, exceto os exclusivamente escriptados e determinados.
June é a aia que iremos acompanhar, na sua tentativa de mudar o status quo ou submergir a rédea do estado opressor e tirano. Em meio a flashback da vida anterior ao golpe que levou a situação surreal que o futuro da série apresenta, os personagens são mostrados em situações quando o desastre ainda se avizinhava meio cinza. Ela começa o seriado em fuga desesperada de carro com seu marido e filha, os quais ambos desaparecem, e não sabemos (nem June) se estão mortos ou desaparecidos.
Elizabeth Moss está fenomenal interpretando June, com seu misto de medo, resignação, desespero e intensidade, com uma carga dramática imensa. Deve disputar Emmy e Globo de Ouro com muitas chances.
Filmado com belas cores, por vezes tão apagadas quanto as personalidades das aias, pode surpreender pela beleza e a forma como faz assepsia de cenas como os temíveis enforcamentos que vemos em vários momentos na série.
Imersiva e sufocante, Handmaid's Tale é uma viagem angustiante que vai deixar uma impressão desse mundo horrificante por muito tempo depois que tenhas desligado seu televisor.
(****1/)
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