domingo, 13 de novembro de 2016

Superlua

Não acreditava em superpoderes. Fantasias de crédulos do início do século, de todos os séculos. Apenas tolice que não colariam nele, logo ele sempre tão inteligente, perspicaz.
Contudo olhou curioso para o céu daquela noite de primavera, a brisa leve com perfume das coisas inefáveis, com sua mistura de terra, mato, entro outros olores menos distinguíveis.
Esperou assim que suas unhas crescessem disformes, os dedos alongando-se dolorosamente a cada estalo nas articulações. Os pelos surgindo por todo o corpo, que se adelgava musculoso, a coluna a se encolher, a postura que antes o permitia andar sobre dois pés, agora o oprimia para rente ao chão, para o inexpugnável caminhar de cão, ou lobo, ou o diabo.
De olhos fechados, não sentiu nenhuma das sensações e quase perda de consciência de toda lua cheia. Desde sempre foi assim, mas não hoje.
A superlua o olhava, quieta, misteriosa, resoluta, roubando-lhe a maldição que o tornava uma fera e agora era apenas humano novamente, ou outro tipo de fera.

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