quinta-feira, 20 de novembro de 2014

Morrissey e o drama do câncer e outras coisas sobre minha admiração sobre os Smiths - Parte 1

A notícia do bardo anunciando que sofre de câncer desvestiu o mistério que se tornou as constantes notícias sobre mal-estares do vocalista eterno dos Smiths. Morrissey parece padecer de uma triste e perigosa resignação sobre o fato de que pode ser uma luta inglória. Num mundo do pop/rock tão carente de verdadeiros e relevantes ídolos, certamente é uma porrada para quem acompanha a boa música inglesa feita nos últimos tempos.

Lembro que conheci a banda graças a This Charming Man. Banda esta formada pelo brilhante Johnny Marr e sua guitarra cheia de dedilhados e arpejos inconfundíveis, que influenciaram muita gente, o exemplo mais notório e importante é a Legião Urbana do disco 2. Morrissey, vocalista celibatário, de sexualidade dúbia e letras kilométricas e de um sarcasmo pronunciado, e a cozinha perfeita composta por Andy Rourke, baixista que compunha linhas melódicas que casavam de forma ajustadíssima com as guitarradas de Marr, e o baterista Mike Joyce, com seu trabalho de pratos sempre elogiado.

This Charming Man tinha uma condução de guitarra única e inconfundível, tanto que catapultou a banda a ter este single como single do século pela Melody Maker, exagero desculpável e aceitável. A guitarra baixo bateria prenunciavam, logo em seu início, a receita da banda para a música pop perfeita, baseada em guitarras jingle jangle, música pop dos anos 60, literatura de Oscar Wild, Keats e Yeats, celibato, dubiedade sexual, vegetarianismo, e críticas ferozes a inglaterra e a realeza.

A versão desta música era a que estava no álbum Hatful of Hollow, ou álbum azul, da gravadora que eles fariam parte a vida inteira, a Rough Trade. O album era uma coletânea de músicas apresentadas ao vivo em estúdio, inéditas e outras que já constavam no primeiro álbum, The Smiths simplesmente. E já continha uma batelada de clássicos instantâneos, como William It was really nothing, a bateria incessante de Mike Joyce com a guitarra agressiva de What difference does it make, a sombria guitarra irreconhecível no riff de How Soon is now, com os versos clássicos como "Eu sou o filho e herdeiro / de uma timidez criminosa de tão vulgar" ou "Eu sou humano e eu preciso ser amado, como tudo mundo precisa", pura juvenília que afetou milhares de jovens tímidos pelo mundo, Handsome Devil e o rock do diabo dos Smiths, Hand in Glove e "não, isto não é como outro amor qualquer, este é diferente porque é nosso!", o indefectível riff de Heaven Knows I'm miserable now e os versos "por que eu dou um tempo valioso / a pessoas que não se importam sequer se estou vivo ou morto (ou com pessoas que quero dar um chute no olho???". Não é todo dia que se encontra letras com tais idéias e tiradas, e isso abunda nas letras do desencantado Morrissey. Calma, ainda estamos falando de somente UM ÁLBUM destes caras! Continuando: This Night has oppened my eyes e a sombria letra que diz "em um rio da cor de chumbo / afunde a cabeça do bebê / embrulhado em um jornal) e a melodia triste adrede consumada. A bela balada Back to The Old House tem um belíssimo arranjo de violão, característica cara ao cara da guitarra, além da delicadeza de Please Please Please Let Me Get What I want onde Morrissey se lamuria sobre "Bons tempos para uma mudança / veja a sorte que tenho tido/ faria um homem bom se tornar mau" ou "Não tenho sonhado há tempos..." que pode lembrar muita gente e nenhuma. Além destas há de atentar também para Still Ill, Miserable Lie, You've got everything Now e Girl Afraid, nesta coletânea praticamente, repleta de grandes músicas. Por aí se vê a falta de medo da banda em jogar toda a copiosa produção para os singles e álbuns, talvez uma certa premonição de que a banda teria vida curta, como se viu posteriormente.

No próximo texto, Meat is Murder e a ode de Morrissey contra a carne.

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