sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

O Passo do Lui (Reedição)

Estudava na 7ª série, bons tempos, sem preocupações, sem maiores angústias fora uns amores adolescentes, supra-sumo da vida a correr no rio das cousas, como dizia o poeta. Amigo secreto, e no livro que lançávamos o que queríamos ganhar para nosso amigo(ou inimigo) oculto se dar ao trabalho de nos alegrar a tentar uma surpresa e nos decepcionar. Antes havia dado umas voltas no shopping velho da cidade, São josé dos Campos, 1986 ou algo assim, e visto uns bons exemplares do Passo do Lui dos Paralamas do Sucesso lá exibidos. Melhor dica impossível, disse no livro até onde comprar. Para quem ignora totalmente o que seja este álbum, simplesmente foi o que catapultou os Paralamas para o Sucesso que até então apenas era um nome de uma banda, rídiculo, mas apenas um nome. Só para o leitor destas pobres linhas imaginar, em qual álbum de vinil (sim, vinil, aquela bolachona preta, os encartes, toda aquela peça rara que tanto deleite proporcionava a quem o possuía... ah, estou ficando nostálgico) poderíamos encontrar ótimas músicas como Meu Erro, Óculos, Me liga (esta que o Lobão acusa o Herbert Vianna de ter plagiado de Me Chama até hoje), Assaltaram a Gramática - esta com Lulu Santos e sua letra nonsense, Romance Ideal (esta eu sei de cor, até o solo de guitarra!), Fui Eu (Sucesso com o grupo sempre livre, aqui numa versão menos acelerada), Ska, a belíssima Mensagem de Amor, que Leo Jaime transformou numa versão mais suingada e sofisticada depois, e um sucesso menor, o Menino e a Menina, esta dizia muito, mas deixa pra lá. Curiosamente, a que menos me cativava neste álbum soberbo era justamente o Passo do Lui. Ironias do destino.
Pois bem, explicações dadas sobre a bolacha, vários colegas passaram a chegar em mim e perguntar que diabos era o tal Passo do Lui. Eu pacientemente explicava que era o tal álbum do Paralamas que continha tais e que tais músicas, blá blá blá, tim tim por tim tim. Legal, a pessoa achava um barato, não sabia que era isso, e dizia que ia pedir um também. Mal sabia eu que nuvens negras se avolumavam no meu futuro, mas as tragédias são feitas de indiferença e arrogância, então, deixe-a acontecer.
Chegado o dia do amigo secreto a minha amiga secreta era minha profe de história, sinto muito mas não lembro mais o nome, que feio, eu sei, sempre fui péssimo com nomes, me lembro da fisionomia de minha querida professora, mas seu nomezinho é algo muito difícil na vida de meus neurônios tão fatigados. Antes, um detalhe: várias pessoas antes de mim ganharam o tão sonhado Passo do Lui, e era este futuro lindo e musical que imaginava usufruir dentre instantes. Recebo entre beijos na bochecha meu vinil, todo pimpão, vou abrindo o presente (rasgando, moleque é foda) e para meu pesar imenso, NÃO ERA O PASSO DO LUI! Imagino que devo ter mudado de uma face de quem viu a Ellen Roche pelada na minha frente para outra que viu a Hebe pelada, foi impossível disfarçar e conter a decepção! A professora deixou para comprar na última hora, e os meus colegas FDPs haviam esgotado a cota de Passo do Lui baseados na minha dica, então o que ela, a profe cheia de Histórias comprou foi o novo dos Paralamas na época, Selvagem. Este também foi um grande sucesso, e talz, album recém lançado, mas, por Deus, custava não ter me sacaneado desta vez ao menos? Fiquei de sorriso amarelo o resto da festa, entre olhares de inveja para meus amigos que ganharam o disco e olhares de ódio para a professora malfadada. Coitada, fez o melhor que pôde, eu teria que passar por esta provação, afinal, somos forjados nestas peripécias, não é?
A única coisa que salvou o dia foi um beijo, mas, como eu disse, outra história, esta, meus amigos, meus inimigos, é de uma derrota, uma ironia das grandes, uma vergonhinha trágica, ou cômica, sei lá, que a medida que o tempo parece amarelecer, mas me faz olhar com ternura uma época que não se matava tanto, não se odiava tanto, mas sim, se divertia um bocado.

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