"Dar bons conselhos é insultar a faculdade de errar que Deus deu aos outros."
Eis um bom conselho que ao mesmo tempo não é um conselho.
Imagino o que faria hoje em dia um Pessoa no twitter, com tantas idéias e tantas mentes e personas diferentes que ele carregava em sí. Quanta perspectiva/perspectivismo não iríamos aproveitar, sorver, da sua inteligência aguda e afiada. Faca amolada nos exercícios do pensamento, na rinha da eterna vigilância contra o convencionalismo e a imutabilidade das idéias e das pessoas.
"Viver não é necessário, necessário é criar"
Ele que gastou toda sua passagem aqui na terra em mil batalhas intelectuais, embora também quedasse suas asas para o ocultimos, tendo até estudado (e dizem se encontrado) com Aleister Crowler, o mago ocultista que desapareceu um dia, levado sabe lá por quem, nem pra onde.
"Não há normas. Todos os homens são exceção a uma regra que não existe."
A invenção dos heterônimos, personas poéticas que escreviam, pensavam e sentiam a poesia e prosa de forma totalmente diversa era o seu microcosmo dentro da alma, ele que inventou para fugir do tédio de um mundo que não o compreendia, e sabia-se póstumo. Esquizofrênico e neurastênico? Mas a que preço? A que custo?
"Não só quem nos odeia ou nos inveja / nos limita e oprime; quem nos ama / não menos nos limita"
Homem sem amores, ao menos mais conhecidos, soube fazer poemas amorosos de fria beleza, cristais sem reflexo anímico de paixão, de chama, alabastrino desconhecido. Mistério em si, não desvendou-se e achava que o amor era tão opressivo quanto o ódio, o pensamento o bastava, e parecia crer nisso!
Flagrante Delitro
Boêmio, beberrão discreto, morreu de cólica hepática, deixando obra incomparável na lingua portuguesa em alcance, qualidade e quantidade. A tudo se dedicou, poesia, ensaio, prosa, filosofia, a tudo, menos a vida.
Gostamos da pessoa no Pessoa, embora nunca saibamos exatamente qual seria ela.
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