sábado, 11 de fevereiro de 2012

Música é um diário

Há músicas e há músicas. O valor de uma música não pode ser medido, mas pode ser sentido. Até na falta de sentido de sua letra, mas na sua enorme relevância sentimental, sensorial. Algumas músicas trazem gostos a boca, impressões a retina, sons de outros sons, vozes, repentes, temas. Uma música é tão superior a sí mesma a medida que se distancia do que imaginava seu criador. Ela viaja por outros corpos, inventa outras letras, cria outros andamentos, perverte outros ritmos e leis. Músicas que me trazem o cheiro de terra molhada, de chuva, de nuvem, de raio, relâmpago, de mar revolto numa noite de verão, com sua beleza furiosa e inefável. Sempre quis tocar um instrumento, e era uma forma mesmo de tocar a música, sentir suas notas, suas vibrações e harmonias, dominá-la, domá-la, embora sua força inunde minha vida inteira. O doutor me disse que eu não poderia ficar exposto a sons muito altos, o zumbido nos ouvidos poderia piorar. Mas como posso viver sem música, e claro, música alta? Alta música, é aquela que te desenha lembranças tão marcantes na mente que seria uma reprimenda muita grande dos deuses se privar delas. O ser humano é um animal social, mas antes de tudo é um animal musical. Não é interessante e terno ver uma criança dançando, sabe-se lá pensando em quê, mas sentindo com o corpo, no gingado, na rima das pernas, na fluência do sapateado? O som grave e trovejante de um contra-baixo sentido no coração, na caixa do peito, é poderoso isso, só entende quem entende. Só não vale rótulos, eu pouco acredito em rótulos musicais, eu acredito mesmo em música boa ou ruim. Independente do nome, eu quero é soar.

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