sexta-feira, 15 de agosto de 2014

Hermes e Renato e a morte do Renato

O suicídio é algo difícil de se digerir, entender, racionalizar.
O suicídio de um humorista beira o surreal, logo alguém que trabalha o humor deveria saber levar a vida de
forma menos trágica como fez Fausto Fanti, lider e idealizador do grupo anarquista de humor Hermes e Renato.
Não entenda com isso que humoristas não tenham de sofrer, não possam ser deprimidos, algumas pessoas aliás tem uma tese de que humoristas são os mais deprimidos. Não concordo, mas é uma tese, se correta, é outra história.
Como disse um dos integrantes do grupo, Fausto pregou uma pegadinha nos seus fãs e amigos, e deprimido, em separação de casamento, deu cabo a própria vida para entrar na história do humor brasileiro.
Amigos que desde adolescentes já bolavam os primeiros esquetes, que depois de depurados foram parar na MTV, onde reinaram durante uma década fazendo um humor escrachado, politicamente incorreto, irreverente e por vezes até pueril, porém incapaz de deixar ninguém sem rir das ambientações trash, interpretações canastronas, principalmente nos quadros do Hermes e Renato, principal cria do grupo, uma dupla de malandros que se envolvia nas mais absurdas situações, além de outros personagens hilários como o Boça, Joselito, o sem noção (curiosamente o intérprete do sem noção que encontrou o amigo morto), Padre Quemedo, dentre muitos outros que apareceram somente em um quadro do programa.
Lembro que tinha duas fitas, pouco é verdade em comparação com o tanto de material que eles produziram, que vivia assistindo, e quando tinha conhecidos em visita, assistia novamente.
Quadros como o Merda Acontece, onde os personagens sempre eram novos, apresentaram histórias absurdamente hilárias, como a da participação do João Gordo, onde ele, ao final, por não encontrar banheiro que lhe acolhesse após comer as mais diversas gororobas, se "entrega" abraçado a uma árvore.
Hermes e Renato apresentou também momentos impagáveis, como o esquete que eles são os policiais achacadores de um incauto motorista, uma verdadeira instituição brasileira. Em outra feita, Renato é um espertalhão que quer se casar com uma velhinha, sendo desmascarado pelo Hermes. Ou o episódio do "Corta" que o diretor interrompia o tempo todo a gravação para dar chilique, e o final, claro, é clássico. Também há o clássico "pedreiros da pqp" com a trilha sonora beirando a perfeição. O do açougue, outra instituição nacional para ser esculhambada por estes arruaceiros do bem que tanto pisotearam o humor chapa branca que andava circulando pelos corredores da tv brasileira. Isso é apenas a ponta do iceberg dos tantos esquetes absurdos que tantas vezes nos fez gargalhar e agora o sorriso, ao lembrar, se torna ligeiramente amargo, para mostrar que o sorriso pode vir da dor, e da dor, o sorriso.
Vá em paz "Renato", sua missão aqui foi cumprida, embora coubesse mais anos e anos de zombarias diversas, mas cada um tem seu caminho, e o seu foi rápido porém prolífico e incomparável.

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