quarta-feira, 31 de julho de 2013

Ira! bem dirigida

Não, não se trata do suposto clã que uso nas partidinhas furiosas de call of duty black ops 2 nem tampouco o exercito republicano inglês (embora seja a inspiração). Falo do grupo Ira! com exclamação, a banda que havia restado com dignidade e bagos do BRock 80 mas que já tem uns anos já acabou devido a desavenças que chegram a um ponto sem volta, envonvendo até o pedido de interdição do cantor Nasi pelo irmão e empresário do músico, vejam vocês!
Composta por: Nasi, ou André Valadão, vocalista, o guitarrista e virtuose Edgard Scandurra, dos melhores que o Brasil já produziu, o baixista Ricardo Gaspa e o baterista subestimado André Jung. Nascida no inicio dos 80 teve um single com Pobre Paulista de uma banda que foi digamos o gérmen fundador do grupo, simpática música embora de letra talvez um tanto simplória, mesmo assim já mostraria que a banda faria jus a exclamação do nome, com muita atitude e garra nas apresentações, onde a banda definitivamente explodia em carisma.
Seu primeiro álbum surgiu em 1985, antes da saída de Charles Gavin que foi para os Titãs para a entrada de André Jung. Puxado pela fantástica NB (Núcleo Base) baseada em reminiscências do compositor Scandurra quando foi para o exército, e sua levada metralhada de bateria no início, a guitarra de raspada, o baixo pulsando lá no estômago, ali nascia uma das mais famosas carreiras e representante do nosso rock. Dentre outros clássicos, a romântica Tolices (já suspirei muito ouvindo ~apagar~) com seus violões e o vocal grave em contraste com a voz mais aguda de Edgar faziam um casamento perfeito. O rock Longe de Tudo tinha um quê de Taxman, enquanto a acelerada e pop Coração eram ótimos impulsos para quem se aventurasse a aprender a tocar. A canção que dá título ao álbum é outra canção que todo fã sempre curtiu, destaque no refrão para os vocais do guitarrista, aonde dizia: "Eu morreria por você (na guerra ou na paz)/ eu morreria por você/ sem saber como sou capaz". Ninguém Precisa da Guerra era outra canção contra a guerra ou exército, como queiram, além de NB. A banda teria outra canção que também tocava no mesmo tema, em álbum posterior, Receita Para Se Fazer Um Herói, genial. Tenho este álbum em vinil e achei nem lembro mais onde no mais puro acaso. Deve ser coisas rara.
A seguir veio o fabuloso e ultra bem gravado Vivendo e Não Aprendendo. Um álbum que tem Dias de Luta e Envelheço na Cidade já valeria a compra de olhos fechados. Clássicos absolutos com uma bateria exemplarmente captada, , dificilmente não sentirás os timpanos pedindo arrego ante as porradas que são desferidas pelo André Jung em seu trabalho mais variado e inspirado no grupo, baixo soando como um trovão numa tempestade elétrica. Os riffs de Scandurra nestas duas belíssimas e atemporais canções é para emoldurar, claro, não o som, mas a partitura delas. Partituras aliás que decoram o encarte com fotos dos membros da banda em momentos descontraídos ou não. Mas ainda tinha mais e nem precisava, o jogo já estava ganho, e eis que há a graça ultrajante de 15 anos - Vivendo e Não Aprendendo, difícil não se enternecer com suas lições ao jovem da letra. (Uma curiosidade: o produtor do disco foi Liminha que ficou às turras com a banda, que queria soar como The Jam, influência clara a fixação Mod da banda, fato que desagradava o produtor. Desta tensão, vejam, surgiu um dos álbuns ou senão o álbum definitivo dos anos 80). Flores em você é feita de violão e cordas e foi até tema de novela. Perdoem os caras né? A música é bonitinha e já entreguei bilhetinho com a letra dela. (~apagar urgente~) Nele também aparecem as versões ao vivo de Pobre Paulista que causou polemicas com versos que foram mal interpretados (não quero ver mais essa gente feia / não quero ver mais os ignorantes / eu quero ver gente da minha terra, / eu quero ver gente do meu sangue) como preconceituosos com imigrantes de outras cidades, e também Gritos na multidão numa vigorosa apresentação da fúria da banda. Confesso que foi graças a estes dois discos que me apareceu a chama interior de tocar um instrumento, de tocar em bandas, etc, chama essa que como dizia The Smiths, never goes out. Creio que muitos foram influenciados também e talvez só por isso já tenha valido a pena que estes jovens - hoje já honoráveis senhores - tenham formado a banda Ira! que nunca vai nos deixar de ensinar sua valiosa lição: Vivendo e não aprendendo.

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