Celso Blues Boy morreu em decorrência de um câncer da garganta. Perda irreparável. Causa espanto mas nem tanto que quase ninguém com menos de 30 saiba quem foi e o que representou. Sabem de mil porcarias dos EUA e outros, mas pouco de um bluesman respeitado até por um gigante como B.B.King. Um guitarrista como poucos houveram neste pais, tão carente de verdadeiros artistas e tão prenhe de folguedos. Quando em 1986 ouvi Sempre Brilhará imediatamente grudei a música na minha vida, tornei uma das preces musicais mais constantes. Sua letra tão simples e cheia de emoção, tão significativa entre seus solos e teclados na versão de estúdio me deixavam hipnotizado, uma bela balada em meio a fúria rocker do Brock oitentista. Um clássico da adolescência dum bluesman que era e sempre foi jovem e jovial na vida, na música, no sentimento. Depois conheci outros clássicos do homem que na época não me afetaram tanto assim, mais por estar em outras ondas, outra sintonia. Aumenta que isso aí é Rock and Roll, anárquica ode a música do diabo, pode servir para levantar defunto em qualquer festa com seu riff e sua levada e a voz rouca do homem, da garganta que devido ao vício do fumo iria o levar para as estrelas. Amor vazio e seu solo inicial inconfundível, seu ar de cabaré, abrasileirando os temas do blues para a linguagem e paisagem tupiniquim. Marginal lançada também na efervescência do rock brasileiro teve a luxuosa participação de Cazuza, um outro marginal da música que deixou saudades e deve estar preparando um jam dos diabos com o velho guitar man. Na Calada da Noite "você peca para crer" já avisava entre dentes e seu swing divertido e debochado. Na cara que todo artista tem um quê de profeta e já sabia o cara que os tempos eram negros, as nuvens cor de chumbo, a vida mais difícil de se viver. Tempos Difíceis e isso tudo e difícil e esquecer a letra e música.
O tempo passou mas estamos na mesma estrada
Escuto promessas, mentiras que não dão em nada
E eles dizem que tudo
Ainda vai mudar
Que os tempos difíceis irão acabar
Eu pego a guitarra e começo a tocar
Porque chorar não vale mais a pena
Porque chorar não vale mais a pena
Porque chorar não vale mais a pena
O tempo passou mas estamos na mesma estrada
Escuto promessas, mentiras que não dão em nada
E eles dizem que tudo
Ainda vai mudar
ue os tempos difíceis irão acabar
Eu pego a guitarra e começo a tocar
Porque chorar não vale mais a pena
Porque chorar não vale mais a pena
Porque chorar não vale mais a pena
Porque chorar não vale mais a pena
Porque chorar não vale mais a pena
Estive num show dele no sesc bm, eu e o colega beiçola e embora provavelmente homem já estivesse doente, em 01 de agosto de 2010. Dois anos e 5 dias depois o cara resolve partir, mas posso dizer que vivi e consegui ver em ação com toda a técnica e vigor que ainda carregava como marca distinta desde sempre, e a alma de rocker e bluesman, com um cigarro e bebida acompanhando o Blues Boy a cada música, viver intensamente já que a chama um dia iria apagar.
E Sempre Brilhará ao vivo, aos vivos, aos que ficam sempre terá um sabor especial, entre solos furiosos apelando a vida e fazendo sua festa, que contagiava a todos que já apreciaram a arte verdadeira, sem maquinações fáceis, sem melodias apelativas, sem rostinhos bonitos e vazios, sem colorido sem cor e música sem som.
Tinha uma música chamada Vim tocar na sua cidade. É velho, acho que tu não vem mais. Um conselho, porém, deixou na sua sabedoria de estrada, é esta que devemos lembrar sempre e seguir:
A vida é bela meu amigo, por isso eu viajo demais
A vida é bela meu amigo, por isso eu viajo...
Vá em paz.
Celso Blues Boy se foi, mas suas estrela Sempre Brilhará como o maior bluesman brasileiro! E Aumenta que isso aí é rockenroll! Sabemos que Tempos Difíceis estão aí, mas nenhum Amor Vazio mudará a sensação de que a Vida Faz Mal a Saúde, e seu papel de Marginal (Ele Sabia que as luzes se apagam) ao reproduzir com tanta fidelidade a Velha Música do Mississipi nos deixará Sentindo Calor, Tremendo de Frio e que Nas Esquinas do Tempo, entre Toneladas de Solidão, ouviremos seu conselho soberbo: Deixe tudo acontecer. (Celso Blues Boy - 1956 / 2012)
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